Em todos os 10 melhores charutos do mundo há o tabaco produzido na Bahia, colocando o estado em posição de destaque no mercado agroindustrial. As plantas produzidas no Recôncavo baiano e, mais recentemente, em duas fazendas no Oeste, além de serem livres do Mofo Azul, são responsáveis pelo aroma e sabor dos charutos. O tabaco é a principal planta não alimentícia cultivava em todos os continentes, tendo o Brasil como segundo maior produtor e primeiro exportador do mundo. Por tudo isso a Cadeia Produtiva do Tabaco recebeu a visita do secretário da Agricultura, João Carlos Oliveira, do diretor geral da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Oziel Oliveira e do diretor de Defesa Vegetal da Adab, Celso Duarte.
A comitiva conheceu os processos de fermentação da empresa Fumex Tabacaleria, localizado no município de Conceição do Jacuípe, visitou o Museu do Charuto e a fábrica Leite & Alves em Cachoeira, esteve na área de plantio da Danco, no município de Governador Mangabeira e encerrou o dia de ontem (24) em uma reunião para ouvir as principais demandas do segmento no Recôncavo.
A região tem vocação agrofumageira e em algumas localidades o cultivo do tabaco faz parte da renda de 97% das famílias. Cerca de 80% dos funcionários das fábricas são mulheres, responsáveis pela produção artesanal de charutos reconhecidos mundialmente. “Estamos falando de uma cultura com dinâmica internacional que tem representatividade social, econômica e ambiental”, afirmou o secretário. “Vamos dialogar com o segmento para fortalecer parcerias e apresentar a força do setor e seus impactos positivos para a Bahia”, completou.
Na fábrica Danco, grupo suíço que há mais de 100 anos produz charutos e cigarrilhas, a produção de tabaco vem de 157 famílias. A empresa emprega 1.200 funcionários em mais de 1.000 hectares. As primeiras sementes da planta chegaram da Indonésia depois da Segunda Guerra Mundial e se adaptaram ao solo e clima da região. Hoje, além de exportar toda sua produção para a Suíça, a fábrica já desenvolve um trabalho voltado para o ecoturismo, apresentando aos visitantes a cadeia produtiva dos charutos e cigarrilhas da marca.
“Diante de um setor tão organizado como esse, precisamos avançar no processo de articulação para gerar oportunidade de negócios, exportar com qualidade, dando chance aos pequenos produtores de participarem ativamente desse ciclo”, destacou o diretor geral da Adab, Oziel Oliveira, lembrando que as ações de defesa vegetal do tabaco começaram em 2009, quando o segmento estava em discussões com vistas à exportação do tabaco para a China.
Em 2010 a Bahia recebeu o status de Área Livre do Mofo Azul. No ano seguinte a região passou por uma auditoria do governo chinês para exportar o primeiro lote do produto. Em 2012 foi assinado o protocolo de intenções para as exportações. “O resultado de 12 anos de monitoramento é a ausência do fungo, técnicos treinados, credibilidade junto aos mercados compradores e fortalecimento da cadeia produtiva”, enfatizou o gerente da área vegetal do Território Portal do Sertão, Aurino Soares, que coordena o Projeto Fitossanitário de Prevenção ao Mofo Azul. Na última década ele esteve à frente das ações de controle na aplicação de 2.132 inquéritos e colheita de 296 amostras.
O trabalho da Agência na região do Recôncavo, em parceria com o setor produtivo, vem sendo reconhecido ao longo dos anos por proporcionar melhorias em toda a cadeia produtiva. “O fumo sempre foi um negócio trabalhoso, mas rentável. A nossa mão de obra é eminentemente feminina, colocando as mulheres na linha de frente e aprimorando a produção de nossos charutos. Além disso, nossa matéria prima vem de pequenos agricultores, o que estimula a economia regional, favorecendo gerações de famílias”, destacou o diretor da Fumex, Markus Dietrich. “Então, temos aqui, clientes, fornecedores e órgão de defesa que permitem a continuidade e a qualidade do nosso trabalho diante dos mercados. Por tudo isso, entendemos que precisamos ajudar os pequenos produtores a serem maiores”, avaliou Dietrich. A Fumex já exporta para a Europa, China e EUA. A fábrica recebe matéria prima de 1.500 pequenos produtores de 16 municípios da região. Cada um deles cultiva o tabaco em áreas de até cinco hectares, dos quais apenas um é utilizado para a folha. Só a Fumex processa meia tonelada/ano da produção da região.
Para manter a Bahia como Área Livre do Mofo Azul a Adab realiza procedimentos anuais de monitoramento da praga, principal entrave impeditivo das exportações. O primeiro passo é a escolha das propriedades para a observação de parâmetros como histórico da região, quantitativo de produtores e área cultivada, entre outros. Em seguida são aplicados inquéritos fitossanitários e realizado o georeferenciamento nas propriedades. Os monitoramentos são feitos desde as sementeiras, passando por vários estágios de crescimento até áreas úmidas aleatórias da lavoura, de modo a inspecionar 2% das plantas. Todas as amostras coletadas são encaminharas para análise em laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura. “Ninguém faz defesa agropecuária sozinho. Nossa função é habilitar o produtor para que, seguindo de acordo com a legislação e exigências do mercado, ele possa crescer”, finalizou o diretor de Defesa Vegetal da Adab, Celso Duarte.
Das folhas ao charuto
O uso do tabaco pelo homem começou na América Central por volta do ano 1000 a.C. O registro mais antigo é de uma relíquia, datada do Século X e encontrada nas ruínas de Uaxactún, na Guatemala, que mostra um maia fumando folhas de fumo unidas por um fio de barbante e amarradas na forma de um rolo. A planta também era consumida através de infusões, comida, mascada, moída ou aspirando sua fumaça. Os nativos norte americanos fumavam o tabaco por meio de cachimbos como parte de celebrações espirituais, enquanto os antigos habitantes da América do Sul usavam a planta moída e envolta em folhas de vegetais. Os astecas, por sua vez, fumavam num tipo de caniço oco, colocando o tabaco em seu interior. Contudo, a origem do charuto ainda é incerta. Já a palavra charuto tem sua provável derivação de “curuttu”, que significa enrolar em espiral na língua tâmil, falada pelos povos habitantes da Índia meridional e chegou à Europa com os navegadores portugueses. Na língua inglesa é “cheroot” e em francês “cherout”.
Fato é que o fumo começou a se difundir após a chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, na região do Caribe (Cuba), quando Rodrigo de Jerez e Luis de Torres foram enviados para explorar o local a procura de ouro. Ao retornarem, relataram que índios Tainos manuseavam tochas e ervas secas das quais inalavam fumaça para não sentirem cansaço. É provável que um desses homens tenha sido o primeiro europeu a fumar um desses charutos rudimentares. Décadas depois, em 1535, Gonzalo Fernandez escreveu em A História Natural das Índias Ocidentais, outro relato: "Os habitantes locais utilizavam tubos ocos de madeira em forma de Y pondo as pontas bifurcadas dentro do nariz e no tubo ervas ardentes", demonstrando que o tabaco era consumido pelos mais diversos motivos. Mas o verdadeiro ancestral do charuto era feito de folhas de fumo envoltas em uma folha de outro tipo, tais como bananeira, milho ou palmeira.
O hábito do fumo foi então disseminado pelo Novo Mundo por marinheiros e exploradores, até chegar aos colonos e conquistadores que, de volta ao Velho Continente, introduziram o fumo na Espanha e Portugal. De lá seguiu para a França, levado pelo embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, que batizou a planta de Nicotiana tabacum, mais conhecida hoje como nicotina. Foi Nicot quem primeiro apresentou o fumo a Catarina de Médicis, rainha da França entre 1547 e 1559. Ela usava a folha em pó para combater enxaquecas e foi a responsável por tornar o fumo um sinal de riqueza. A partir daí o tabaco ficou conhecido como “a erva da rainha” ou “erva do embaixador”, após seu cultivo por Nicot. Com a publicação de um estudo científico do alemão Johan Neander, em 1626, sobre os efeitos terapêuticos do tabaco, a planta passou a ter propósitos medicinais.
Mas sua produção em larga escala já tinha começado desde o ano de 1531 em Santo Domingo, Cuba, 1558 em Portugal, 1559 na Espanha, 1565 na Inglaterra, 1600 no Brasil e 1620 na França. A partir de 1676, os espanhóis produziram os primeiros charutos usando fumo cubano em Sevilha. O charuto, no formato padrão conhecido hoje, foi criado em 1726, ano em que os EUA conheceram o produto. Somente em 1821 o rei espanhol Ferdinando VII permitiu a fabricação de charutos em Cuba e pouco mais de 20 anos depois a ilha já era o maior produtor de charutos do mundo, chegando a ter 1302 tabacarias em 1862. Após a Revolução Cubana, muitos mestres na produção de charutos emigraram para outros países.
A fábrica de charutos mais antiga do Brasil foi fundada em 1873, pelo alemão Gerhard Dannemann. Em 1881 foi a vez da Imperial, que mais tarde seria transferida para a cidade de Cachoeira e se tornaria a Fábrica de Charutos Leite & Alves. Atualmente o fumo também é produzido fora do continente americano, como Camarões e Indonésia. Porém os charutos mais apreciados pelos especialistas ainda são aqueles a partir de plantas cultivadas na América Central, em países como República Dominicana, Nicarágua e, especialmente, Cuba. Ainda assim, todos eles levam o tempero do tabaco da Bahia.
Ascom Adab 25/08/2021
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